O Yoga é uma prática ancestral que busca a harmonia entre o corpo, a mente e o espírito, com o objetivo de alcançar um estado de tranquilidade e equilíbrio interior. No entanto, ao longo dessa jornada, nos deparamos com diversos obstáculos que podem dificultar nossa busca pela paz interior e nos afastar do caminho do Yoga.
No Yoga Sutra de Patanjali, uma importante obra que sistematiza os ensinamentos do Yoga, é mencionada a existência de nove obstáculos, também conhecidos como “Navarasa” ou “Nove Aflições”. Esses nove obstáculos são como barreiras que surgem em nossa jornada espiritual, impedindo-nos de avançar em direção à iluminação. Eles incluem a doença física (Vyadhi), a apatia (styana), a dúvida (samsaya), a indolência (pramada), a inconstância (alasya), a sensualidade excessiva (avirati), a aversão (bhranti-
darshana), a falta de progresso (alabdha-bhumikatva) e a instabilidade mental (anavasthitatva).
Cada um desses obstáculos representa um desafio único que precisamos enfrentar em nossa prática do Yoga. Ao compreendermos a natureza dessas aflições e aprendermos a identificá-las em nossas vidas, podemos desenvolver estratégias para superá-las e continuar avançando em nosso caminho espiritual.
Neste texto, exploraremos esses nove obstáculos, nos aprofundando em cada um deles e discutindo formas de lidar com suas influências em nossas vidas. Compreender e superar essas aflições nos permitirá avançar com mais clareza, foco e serenidade em nosso caminho rumo ao bem-estar físico, mental e espiritual que o Yoga nos oferece.
Vyadhi – Doença física
Um desses obstáculos primordiais é chamado de Vyadhi, que se refere à doença física e representa o primeiro desafio mencionado no Yoga Sutra de Patanjali. Vyadhi é uma realidade inerente à experiência humana, pois nossos corpos estão sujeitos a várias condições de saúde ao longo da vida. Quando nos deparamos com doenças, lesões ou desconfortos físicos, nossa mente pode se ver afetada, desencadeando uma série de reações emocionais e mentais que podem prejudicar nossa prática do Yoga.
A doença física pode trazer consigo dor, fraqueza, fadiga e limitações em nosso corpo, impactando nossa capacidade de realizar as posturas (asanas), respirações (pranayama) e práticas meditativas com facilidade e foco. Além disso, a presença de doença pode gerar preocupações, medos e ansiedades, dispersando nossa atenção e diminuindo nossa motivação.
No entanto, o Yoga não nos convida a ignorar ou negar a existência da doença. Pelo contrário, somos convidados a compreender e abordar Vyadhi de forma consciente. Patanjali nos orienta a adotar uma abordagem restauradora, combinando autocuidado e uma visão holística da saúde. Isso implica cuidar de nosso corpo, mente e espírito em sua totalidade, procurando equilíbrio e bem-estar em todas as dimensões.
Ao enfrentarmos a doença física, podemos recorrer a práticas específicas do Yoga que promovam a cura, o fortalecimento e o alívio dos sintomas. Isso pode incluir asanas suaves e adaptadas, práticas de respiração para melhorar a energia vital (prana), técnicas de relaxamento e meditação para acalmar a mente e nutrir o corpo com uma alimentação saudável e adequada.
Além disso, o aspecto mental é fundamental no enfrentamento de Vyadhi. Cultivar uma atitude positiva, aceitação e compaixão em relação à nossa condição física é essencial. A prática de não se identificar com a doença, reconhecendo que não somos apenas nossos corpos e que a doença é apenas uma parte temporária de nossa experiência, pode ajudar a reduzir o impacto negativo da enfermidade em nossa jornada de Yoga.
No Yoga Sutra, Patanjali nos lembra que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim um estado de equilíbrio físico, mental e espiritual. Portanto, ao enfrentar o obstáculo de Vyadhi, é importante lembrar que o Yoga é uma jornada de autocuidado integral, na qual buscamos o equilíbrio e a harmonia em todas as áreas de nossas vidas, incluindo a saúde física.
Embora a doença possa ser um desafio significativo no caminho do Yoga, é possível encontrar oportunidades de crescimento e transformação mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Através da prática regular, do cuidado amoroso com nosso corpo e mente, e da busca contínua por equilíbrio, podemos transcender as limitações impostas pela doença e encontrar uma verdadeira conexão com nossa essência interior, além das fronteiras físicas.
Assim, Vyadhi se torna uma oportunidade para cultivar a resiliência, a gratidão e uma compreensão mais profunda do nosso ser.
Styana – Apatia
Vamos continuar a nossa jornada pelos obstáculos do Yoga com a Apatia (Styana em sânscrito). A apatia é como aqueles dias cinzentos, quando a cama parece mais convidativa do que o tapete de Yoga. É uma falta de interesse que pode se infiltrar sorrateiramente em nossas vidas, tornando até mesmo as tarefas mais simples um fardo pesado.
No dia a dia, a apatia pode se manifestar de várias maneiras. Pode ser um sentimento de desinteresse pelo trabalho, mesmo que você normalmente goste do que faz. Pode ser uma relutância em socializar ou participar de atividades que você costumava desfrutar. Você pode se encontrar procrastinando tarefas simples, como fazer compras ou limpar a casa.Em casos mais graves, a apatia pode até levar à negligência da saúde física e mental.
Na prática do Yoga, a apatia pode aparecer como uma resistência para iniciar ou manter
uma prática regular. Você pode se encontrar pulando sessões de Yoga ou não se dedicando totalmente durante as sessões. Pode haver uma falta de entusiasmo ou energia durante a prática de asanas ou pranayama. Em alguns casos, a apatia pode levar à negligência das orientações do professor ou à falta de respeito pelos princípios do Yoga.
No entanto, assim como o sol eventualmente rompe as nuvens, a prática regular de asanas (posturas físicas) e pranayama (controle da respiração) pode ajudar a dissipar a apatia. Segundo Patanjali, o pai do Yoga clássico, em seu texto seminal “Yoga Sutras”, a prática regular de asanas e pranayama pode trazer equilíbrio e controle sobre nossas emoções. Asanas são posturas físicas que aumentam a estabilidade e a saúde do corpo, enquanto o pranayama é o controle da respiração que ajuda a acalmar a mente. Juntos, eles podem
ajudar a superar a apatia, trazendo energia e vitalidade de volta à nossa rotina.
Além disso, Patanjali enfatiza a importância da meditação (Dhyana) como uma ferramenta para superar obstáculos emocionais. A meditação regular pode nos ajudar a entender melhor nossas emoções e a lidar com elas de maneira mais eficaz.
Portanto, ao enfrentar a apatia, podemos recorrer às práticas de Yoga para nos ajudar a superar esse obstáculo. Assim como o sol eventualmente rompe as nuvens cinzentas, o Yoga pode trazer luz para nossas vidas, dissipando a apatia e trazendo energia e vitalidade de volta à nossa rotina.
Samsaya – Dúvida
Mas, mesmo com o sol brilhando intensamente, as nuvens da Dúvida (Samsaya em sânscrito) podem se formar no horizonte de nossa jornada no Yoga. A dúvida é um obstáculo astuto e insidioso que questiona nossa fé na prática do Yoga e em nossa própria capacidade. Pode surgir como um questionamento interno persistente: “Estou fazendo isso certo? Isso realmente funciona? Estou progredindo?”
No dia a dia, a dúvida pode se manifestar como incerteza em nossas decisões, seja no trabalho, nos relacionamentos ou em nossos objetivos pessoais. Na prática do Yoga, pode aparecer como questionamentos sobre a eficácia de uma postura ou técnica, ou dúvidas sobre nosso progresso e desenvolvimento.
Para dissipar essas nuvens de incerteza, buscamos conhecimento e orientação. Isso pode vir através do estudo dos textos sagrados do Yoga, como os Yoga Sutras de Patanjali, que fornecem uma estrutura filosófica para a prática do Yoga. Também podemos buscar a orientação de um professor experiente, cuja sabedoria e experiência podem nos ajudar a navegar pelos desafios da prática.
Lembre-se, a dúvida é uma parte natural da jornada do Yoga e pode ser um sinal de que estamos prontos para aprender e crescer. Ao enfrentar a dúvida com curiosidade e uma mente aberta, podemos transformá-la em uma oportunidade para aprofundar nossa prática e compreensão do Yoga.
Pramada – Indolência
No entanto, mesmo armados com conhecimento e orientação, podemos nos deparar com a Iindolência (Pramada em sânscrito). A indolência é a negligência ou falta de esforço na prática do Yoga. É como quando sabemos que devemos fazer algo, mas continuamos adiando.
No dia a dia, a indolência pode se manifestar como procrastinação, onde adiamos tarefas importantes, seja no trabalho, em casa ou em nossos objetivos pessoais. Na prática do Yoga, pode aparecer como uma resistência para manter uma prática regular ou um esforço insuficiente durante as sessões de Yoga.
Superar esse obstáculo requer o cultivo da disciplina e da diligência. Segundo Patanjali, em seus Yoga Sutras, a prática regular e consistente (Abhyasa) é a chave para superar a indolência. Abhyasa refere-se à prática diligente e disciplinada que é realizada com dedicação ao longo do tempo.
Além disso, Patanjali enfatiza a importância do desapego (Vairagya) como um meio de superar obstáculos emocionais como a indolência. Vairagya é o desapego dos frutos da ação e pode nos ajudar a permanecer focados na prática do Yoga sem nos preocuparmos excessivamente com os resultados.
Alasya – Inconstância
A indolência muitas vezes anda de mãos dadas com a inconstância (Alasya em sânscrito). A inconstância é a incapacidade de manter uma prática regular de Yoga. É como quando começamos uma dieta ou uma rotina de exercícios com entusiasmo, mas depois de algum tempo perdemos o ritmo.
No dia a dia, a inconstância pode se manifestar como uma falta de consistência em nossos hábitos e rotinas. Pode ser que comecemos um projeto ou tarefa com grande entusiasmo, mas depois de algum tempo, perdemos o ímpeto e deixamos de seguir adiante.
Na prática do Yoga, a inconstância pode aparecer como uma dificuldade em manter uma prática regular. Pode ser que comecemos a praticar Yoga com grande entusiasmo, mas depois de algum tempo, encontramos desculpas para não praticar ou nos encontramos pulando sessões.
Superar esse obstáculo requer consistência e comprometimento com a prática regular.
Segundo Patanjali, em seus Yoga Sutras, Abhyasa (prática regular e consistente) é a chave para superar a inconstância. Abhyasa refere-se à prática diligente e disciplinada que é realizada com dedicação ao longo do tempo.
Avirati – Sensualidade Excessiva
À medida que avançamos em nossa jornada no Yoga, podemos nos deparar com o obstáculo da Sensualidade Excessiva (Avirati em sânscrito). Este obstáculo se refere ao apego excessivo aos prazeres sensoriais, como comida, bebida ou entretenimento.
No dia a dia, a sensualidade excessiva pode se manifestar como um desejo insaciável por prazeres sensoriais. Pode ser que nos encontremos consumindo excessivamente alimentos saborosos, bebidas ou entretenimento, mesmo quando sabemos que isso pode ser prejudicial para nossa saúde ou bem-estar.
Na prática do Yoga, a sensualidade excessiva pode aparecer como um apego excessivo à experiência sensorial da prática. Pode ser que estejamos mais focados em como a prática nos faz sentir fisicamente, em vez de nos concentrarmos na conexão mente-corpo que o Yoga visa cultivar.
No Yoga, somos encorajados a praticar a moderação (Brahmacharya) e o desapego (Vairagya) para superar esse obstáculo. Brahmacharya é frequentemente interpretado como continência ou moderação nos prazeres sensoriais. Vairagya, por outro lado, é o desapego dos frutos da ação e pode nos ajudar a permanecer focados na prática do Yoga sem nos preocuparmos excessivamente com os resultados.
Segundo Patanjali, em seus Yoga Sutras, a prática regular e consistente (Abhyasa) juntamente com o desapego (Vairagya) são as chaves para superar obstáculos emocionais como a sensualidade excessiva.
Portanto, ao enfrentar a sensualidade excessiva, podemos recorrer às práticas de Yoga e aos ensinamentos de Patanjali para nos ajudar a superar esse obstáculo. Com moderação, desapego e uma prática regular e consistente, podemos superar a sensualidade excessiva e progredir em nossa jornada no Yoga.
Bhranti – Aversão
No entanto, enquanto lutamos para moderar nossos desejos sensoriais, podemos nos deparar com a Aversão (Bhranti-darshana em sânscrito). A aversão é a rejeição ou resistência a certos aspectos de nossa experiência.
No dia a dia, a aversão pode se manifestar como uma resistência ou rejeição a certas situações, pessoas ou experiências. Pode ser que evitemos certas tarefas ou responsabilidades, ou que resistamos a mudanças em nossas vidas.
Na prática do Yoga, a aversão pode se manifestar como uma relutância em experimentar novas formas de prática ou uma resistência a sair de nossa zona de conforto. Pode ser que evitemos explorar novos estilos de Yoga ou que resistamos a incorporar meditação ou cantos em nossa prática.
Alabdha-bhumikatva – Falta de Progresso
À medida que avançamos em nossa jornada no Yoga, podemos nos deparar com o obstáculo da falta de progresso (Alabdha-bhumikatva em sânscrito). Este obstáculo se refere à sensação de estagnação ou falta de avanço na prática do Yoga.
No dia a dia, a falta de progresso pode se manifestar como uma sensação de estagnação em nossas vidas pessoais ou profissionais. Pode ser que nos sintamos presos em um emprego sem perspectivas de promoção, ou que nos sintamos estagnados em nossos relacionamentos pessoais.
Na prática do Yoga, a falta de progresso pode aparecer como uma sensação de estagnação em nossa prática. Pode ser que nos sintamos presos em um certo nível de habilidade, ou que não estejamos vendo os benefícios físicos ou mentais que esperávamos da prática do Yoga.
Superar esse obstáculo requer paciência e confiança no processo do Yoga. Segundo Patanjali, em seus Yoga Sutras, a prática regular e consistente (Abhyasa) é a chave para superar a falta de progresso. Abhyasa refere-se à prática diligente e disciplinada que é realizada com dedicação ao longo do tempo.
Além disso, Patanjali enfatiza a importância do desapego (Vairagya) como um meio de superar obstáculos emocionais como a falta de progresso. Vairagya é o desapego dos frutos da ação e pode nos ajudar a aceitar e entender nossas experiências sem julgamento ou resistência.
Portanto, ao enfrentar a falta de progresso, podemos recorrer às práticas de Yoga e aos ensinamentos de Patanjali para nos ajudar a superar esse obstáculo. Com paciência, confiança no processo e uma prática regular e consistente, podemos superar a falta de progresso e progredir em nossa jornada no Yoga.
Anavasthitatva – Instabilidade Mental
Finalmente, chegamos ao último obstáculo em nossa jornada no Yoga: a instabilidade mental (Anavasthitatva em sânscrito). Este obstáculo se refere à dificuldade de manter um estado mental calmo e estável.
No dia a dia, a instabilidade mental pode se manifestar como ansiedade, estresse ou inquietação. Pode ser que nos sintamos sobrecarregados por nossas responsabilidades ou que tenhamos dificuldade em manter a calma em situações estressantes.
Na prática do Yoga, a instabilidade mental pode aparecer como uma mente inquieta durante a meditação ou uma incapacidade de se concentrar durante as práticas de asana e pranayama.
A meditação regular é uma ferramenta poderosa para cultivar a estabilidade mental.
Segundo Patanjali, em seus Yoga Sutras, a prática regular e consistente (Abhyasa) de meditação pode ajudar a acalmar a mente e promover a estabilidade mental.
Cada um desses obstáculos representa um desafio único em nossa jornada no Yoga. Eles nos ajudam a crescer e evoluir não apenas em nossa prática do Yoga, mas também em nossa vida diária. Ao enfrentar e superar esses obstáculos, podemos progredir em nossa jornada no Yoga e cultivar uma maior paz e harmonia em nossas vidas.