O 10 de outubro vem sendo marcado internacionalmente como um dia dedicado à educação, conscientização e defesa da saúde mental e de sua importância na vida das pessoas. O Dia Mundial da Saúde Mental é apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por meio da conscientização sobre questões de saúde mental, através da atuação de ministérios da saúde e de organizações da sociedade civil em todo o mundo.
Mas afinal, o que é saúde mental e por que ela é tão importante no contexto mais amplo de saúde? Quando pensamos em saúde pela perspectiva integrativa, não é possível deixar de perceber relações profundas entre questões biológicas, psíquicas e sociais.
Para deixar mais clara essa conexão, proponho olharmos para 4 aspectos primordiais da saúde – considerada física – que são impactados diretamente por aspectos da saúde mental.
O primeiro deles: alimentação de qualidade, saudável e nutritiva. Na realidade dos consultórios médicos e de nutrição fica bastante evidente o impacto que traumas infantis, quadros ansiosos ou compulsivos e emoções não digeridas têm na nossa relação com a comida e com as dificuldades de nos alimentarmos de maneira nutritiva e suficiente, sem excessos ou restrições exageradas, muitas vezes oriundas de compensações emocionais.
O segundo aspecto: sono de qualidade, restaurador e reequilibrante. Também aqui é muito comum que queixas relacionadas a prejuízos na capacidade de dormir e descansar tenham relações muito profundas com estados de ansiedade, irritação e descontentamento com relações sociais do presente e do passado. É difícil mesmo descansar de maneira reconfortante se nossas emoções e estados psíquicos estão em alerta, governados fundamentalmente pelo sistema nervoso autônomo simpático, sem que a modulação do parassimpático possa encontrar seu espaço.
Um terceiro ponto, também muito importante: movimento e atividade do corpo que nos traga prazer e satisfação. Para além dos exercícios físicos mais conhecidos e que fazem sentido na rotina de muitas pessoas – o corpo humano pede movimento na direção do prazer, daquilo de nos deixa realmente conectados a quem realmente somos! Inúmeros estudos demonstram evidências de que fazer exercícios ou atividades físicas que nos aproximam de sentimentos como alegria, pertencimento e autovalorização aumenta a frequência na realização da atividade e a consistência da prática ao longo da vida. Aqui também questões mentais interferem muito, pois experiências do passado ou crenças que nos acompanham no presente podem nos afastar daquilo que nos traria prazer pro corpo e saúde para a mente. Como fazer algo que nos conecta a quem realmente somos se já não reconhecemos nossa identidade ou se não nos identificamos com a versão atual de nós mesmos?
Por último, para não deixar esse texto muito longo, cito um quarto aspecto, tão falado atualmente: o famoso manejo do estresse. Nesse, a relação é inequívoca. O estresse é algo intrínseco à vida, ele nos conta a todo momento que o mundo é instável, que a mudança é o que temos de mais constante na experiência humana. Manejar o estresse numa realidade social cada vez mais voltada à aceleração dos corpos e mentes parece uma exigência social impossível de ser alcançada. Porém, ele tem com os outros 3 aspectos uma relação bidirecional da qual não conseguimos escapar: em uma direção, quem não maneja o estresse não se alimenta bem, não dorme bem e não se movimenta na direção do próprio prazer; e no sentido inverso, quem se alimenta bem, dorme bem e se movimenta considerando o próprio prazer tem mais recursos internos para manejar o estresse da vida como ela se apresenta, fazendo inclusive as mudanças necessárias e possíveis para torná-la mais próxima daquilo que consideramos individualmente como bem-estar.
Pareceu muita coisa, não é mesmo? Mas acredite, profissionais alinhados ao pensamento sistêmico trabalham com base num pressuposto muito importante: o de que uma transformação crucial, num aspecto crítico, gera transformações complexas no sistema, em efeito cascata. Ou seja, quando acolhemos, compreendemos e reorganizamos internamente aquele aspecto mais crítico e mais abandonado de nossa saúde, os outros aspectos respondem a essa mudança, dando início a uma sequência evolutiva de reações físicas, mentais e sociais na direção da saúde.
Toda jornada começa com um primeiro e pequeno passo na direção de nós mesmos. Vamos?