A ciência tem evoluído continuamente na busca de métodos diagnósticos cada vez mais acurados e individualizados, assim como no desenvolvimento de opções terapêuticas para o tratamento do câncer, a chamada medicina de precisão. Mas, afinal, para que buscamos a cura e/ou o controle do câncer? Cada um tem suas respostas particulares, mas em algum grau está o desejo do prolongamento da vida. Assim, faz sentido que o ganho em sobrevida seja acompanhado do ganho também em qualidade de vida.
O termo em inglês “survivorship” é usado para descrever programas de acompanhamento de pacientes que receberam o diagnóstico de câncer. Este cuidado, de forma estruturada, é relativamente novo, propagou nos EUA a partir de 2004, e na Europa a partir de 2008. Os modelos são divergentes e adaptados a diferentes realidades, mas compartilham a proposta de reabilitação, vigilância, prevenção, reintegração e resgate da individualidade.
Devido ao impacto físico, emocional e às frequentes idas aos centros médicos logo após o diagnóstico, durante o tratamento inicial e em situação de recidiva, muitos programas se dedicam aos pacientes que completaram a fase mais intensa do tratamento oncológico, embora, todo paciente diagnosticado com câncer possa ser considerado um “sobrevivente” e seja candidato aos cuidados integrais preconizados para o “survivorship”.
Além do estigma relacionado ao diagnóstico, os pacientes muitas vezes precisam lidar com efeitos colaterais e tardios do tratamento, que trazem aumento no risco de complicações cardiovascular, pulmonar, renal, neurológica e musculoesquelética, risco de recidiva ou de segunda neoplasia, alteração da composição corporal e outras mudanças na imagem e na funcionalidade física, maiores taxas de ansiedade, depressão, abuso de medicamentos, dor crônica, alterações do sono, fadiga, mudanças nos relacionamentos sociais e afetivos, dificuldades com intimidade e sexualidade.
Ao mesmo tempo, a superação do câncer abre espaço para que os pacientes possam se redescobrir, repensar suas existências, seus propósitos e buscar qualidade de vida. Nesta jornada, o autoconhecimento e o autocuidado podem ser ferramentas transformadoras no estilo de vida, com foco na promoção de saúde e redução dos riscos e efeitos associados ao tratamento.
No acompanhamento de pacientes oncológicos é notória a importância da reserva física e resiliência emocional durante o tratamento, no seguimento e no impacto da qualidade de vida. A abordagem médica através da Medicina do Estilo de Vida olha para a saúde além do câncer. E seguindo seus preceitos, não basta orientar, distribuir cartilhas, checar aderência e exames, muitas vezes é preciso estar junto, escutar, acolher e auxiliar no processo.
Tão importante quanto o tratamento da doença oncológica é cuidar da saúde da pessoa diagnosticada com câncer.