Uma das principais causas de incapacidade física e de afastamento do trabalho é a dor lombar inespecífica, aquela com ausência de alteração estrutural, ou seja, sem redução do espaço dos discos estre as vértebras ou alguma compressão das raízes nervosas, lesão óssea ou articular. Ao longo da vida, aproximadamente 70 a 80% das pessoas terão pelo menos um episódio de lombalgia. A maioria das pessoas naturalmente em até 6 semanas têm a regressão da queixa, mas aproximadamente 10% destes, evoluem com a lombalgia crônica inespecífica. Para ser considerada uma dor crônica, deve se prolongar por no mínimo 12 semanas.
A dor crônica pode ser resultado de uma lesão real ou potencial, causada por um estímulo sensorial “desregulado”. No mundo da ciência da dor estudam-se muitas variáveis que influenciam como nós interpretamos e experimentamos as dores (crônica ou aguda, emocional, etc.). A maneira como cada um a interpreta vai muito além de uma possível lesão, sendo que seu estado psicológico, comportamento (hábitos de vida), histórico de lesões, constituição genética e condição socioeconômica contribuem para sua experiência de dor.
Os estudos científicos vêm demonstrando que há uma alta prevalência nestes indivíduos de fatores psicológicos, como cinesiofobia (medo ou receio de se movimentar), isolamento social, somatização (aparecimento de sintomas físicos por conflitos emocionais) e catastrofização (processo de pensamento negativo que se concentra excessivamente nas sensações de dor, reais ou não, com a percepção da intolerância e da incapacidade de lidar com ela). Tais fatores parecem ser preditores mais eficazes da intensidade da dor e incapacidade funcional do que fatores anatômicos.
A dor na coluna também pode estar associada ao funcionamento mais intenso do sistema visceral; por exemplo, se a dor lombar aparece no mesmo período do mês do ciclo menstrual; ou, se a dor na coluna se associa a uma sensação de estufamento e distensão do abdômen ou, de repente, melhora depois de conseguir evacuar, precisamos investigar melhor estas causas.
Sabendo que a melhora da condição músculo-esquelética está relacionada com questões de estilo de vida (qualidade do sono, de atividades físicas, da alimentação e questões psicológicas), é necessária uma abordagem multidisciplinar e integrativa. A mudança de comportamento é desafiadora e gradual, mas essencial para aqueles que têm dor crônica.
A Fisioterapeuta, que tem o olhar da Reabilitação Integrativa, a partir de uma avaliação individualizada e observando toda a complexidade envolvida da queixa, propõe mudanças de hábitos de vida, utiliza recursos físicos para o alívio da dor e prescreve uma série de movimentos saudáveis e prazerosos, progressivamente aumentando sua variabilidade e intensidade. A atividade física promove melhora nos aspectos neuroquímicos, psicoemocionais e mecânicos relacionados às dores crônicas.