Wuo Tai é uma prática corporal contemporânea criada pelo osteopata francês Roland Combes, que une elementos da osteopatia com movimentos inspirados na dança e nas artes marciais. Realizado no chão, sobre um tatame, o Wuo Tai propõe uma escuta sensível do corpo por meio de movimentos circulares, ondulatórios e contínuos que mobilizam articulações, fáscias e tecidos profundos.
Mais do que uma técnica, é uma arte de tocar que convida ao abandono de si mesmo e ao acolhimento, favorecendo estados de relaxamento profundo e reorganização corporal. A abordagem não busca corrigir, mas sim oferecer ao corpo outras possibilidades de movimento e presença, despertando recursos internos de autorregulação.

Roland conta que o Wúo Taï nasceu do não esforço, da falta, de forma espontânea. Essa falta é considerada como algo positivo pois somente a partir dela algo novo pode nascer. A busca incessante por preencher os vazios não gera e não sustenta espaço para criar. Então, essa é uma prática que busca estar em contato com aquilo que nos escapa, é justamente sobre aquilo que nos escapa. Dessa forma, nessa osteo dança proposta pela prática do Wúo Taï, buscamos dissolver o que somos no mover do momento.
Assim, de alguma forma, quem está sendo conduzido na dança pelas mãos e pelo corpo do terapeuta também é levado a esse estado de dissolução e silêncio interior que são profundamente regenerativos para o sistema nervoso e conjuntivo.
Parece filosófico e descolado demais da realidade em que vivemos?
Realmente, é uma prática que propõe um outro modo de tocar, de cuidar, de sentir e se mover pelo espaço interior e pelo espaço que é esse outro de quem cuidamos. O terapeuta inicia de costas para a pessoa, num gesto de oferecer tudo aquilo que ainda não sabe, tudo aquilo que lhe escapa e que é infinitamente maior do que aquilo que conscientemente sabemos. O gesto de dar as costas é também se desprender do que queremos atingir com isso, das expectativas, das intenções e das crenças. É sobre se entregar ao sentir e ao fluir dos movimentos deixando que a pulsação interna do corpo da pessoa que recebe seja guia ao próximo passo, ao próximo gesto.
Wúo Taï é também conhecido como dança das fáscias. Essa prática como um todo leva em consideração o desenvolvimento e a interconectividade entre todos os tecidos e sistemas do corpo humano. Dançando suave e lentamente com as nossas fáscias sustentadas pelas fáscias de quem estamos a cuidar, alcançamos lugares profundos de estímulos significativos que propulsionam a inteligência natural da vida no corpo a regular a si mesma de dentro para fora.
Wúo Taï é então a passagem do gesto pensado para o gesto sentido e dançado. Pois o gesto é mais inteligente e significativo do que a própria razão. Num gesto de entrega mútua, paciente e terapeuta se tornam um só sistema em movimento, suspensos pela forma um do outro. A sutileza dá lugar à força, o gesto pensado dá lugar ao gesto sentido, o ritmo brota do contato entre corpos que se entrelaçam para sentir o pulso da vida dentro e através de si. Assim, sem querer, mas só por simplesmente ser e se mover, a vida pulsa reorganizando a si mesma.
Na Clínica Hiraoka, o Wuo Tai é praticado como uma escuta profunda do corpo — uma dança terapêutica onde o toque e o movimento liberam bloqueios com suavidade e precisão.